quinta-feira, julho 24, 2008

Urbana

A paisagem urbana é uma coisa. Da janela de um táxi, passando pelo centro movimentado de uma cidade movimentada, você consegue viajar na história de cada pessoa e construção ao longo dos quarteirões.


Um jardineiro trabalhando nas flores da entrada de um prédio de luxo. Ele deve ter uma mulher, filhos, quem sabe? Será que a esposa tem um emprego? Talvez o trabalho dele não seja suficiente para sustentar a casa. Há quanto tempo ele trabalha? A julgar pelos traços do seu rosto ligeiramente marcado pelo tempo, deve ter pelas últimas casas dos 50 - pode ter começado cedo, com quase 20. Seriam 30 e poucos anos para fazer clientes, conquistá-los. Um indica ao outro, e ele pode ter trabalhado nas casas de todo um círculo de amigos, graças ao velho de-boca-em-boca! E agora planta tulipas alinhadinhas à grade alta do portào de um edifício suntuoso.


Uma oficina mecânica, pequena, no meio de uma quadra. Dois homem conversam em frente, onde um carro não dos mais novos está estacionado na entrada. O nome da oficina é um sobrenome: sria um daqueles sujeitos o próprio? Um é bem mais velho do que o outro, poderiam ser pai-e-filho-sócios. Poderiam ser também sogro-e-genro-sócios. Mas é possível que fosse um cliente e um mecânico, amigos, quem sabe. O carro ali pertence a algum cliente ou é do dono, mesmo? Ele precisa de uma lavagem e uma retocada na pintura. O automóvel, não o dono.


No momento, é impossível continuar. O taxista - que parece muito um daqueles boêmios americanos negros gorduchos, tocando jazz no saxofone em um bar, com seus cabelos brancos e crespos por baixo de uma boina verde, apesar do pagode no rádio do táxi - faz curvas loucas pela Avenida.

terça-feira, fevereiro 12, 2008

Back to Black... quer dizer, Class

Tem gente que gosta da euforia do primeiro dia de aula, com aquele desfile de roupas e materiais novos, a cada três passos alguém gritando seu nome e te abraçando emotivamente, como se realmente sentisse saudades. E tem gente, como eu, que simplesmente é indiferente - a não ser, é claro, pelo fato de acordar seis horas antes do que o acostumado nas férias.


Uma das primeiras coisas que fazemos ao chegar na sala de aula no primeiro dia é analisar os colegas. Não, tudo bem, não precisa esconder: todos nós reparamos em como aquela menina engordou nas férias e no amarelo ridículo que a parafina + sol causou no cabelo daquele garoto. Quer dizer, parece que o verão é um mundo paralelo (ou quase) à vida escolar, e nem todos imaginam como vai ficar a própria aparência assim que as férias acabarem.


Ao longo da primeira aula, você descobre que algumas pessoas nunca vão crescer quando aquele boboca vira para trás e começa a cutucar a menina que teve a infelicidade de tê-lo sentado na sua frente. E, claro, quando alguém não respeita nem a adaptação geral ao novo horário e joga uma bolinha de papel direto na cabeça de um que achava que conseguiria dormir apoiado na mão.


Falando em dormir, você se perguntava quanto tempo demoraria pra você começar a se sentir enjoada das explicações: pois bem, não é nem a terceira aula do dia e seus olhos vão se fechando e os seus ouvidos captam um ruído qualquer que não a voz do professor. Mas aí o sinal do intervalo toca, e você se assusta com a ferocidade com a qual os alunos se amontoam para sair da sala e recomeçar toda a falsidade de se cumprimentar no pátio.


Isso sem contar que, às vezes, você nem ficou na sala dos seus amigos. Ou foram eles que não ficaram na sua? Quem vai saber? Você acabou de voltar às aulas!



Imagine se eles estariam fazendo isso se fosse a volta às aulas...




*


Nota Extra



Agora façamos um minuto de silêncio para a minha querida Amy Winehouse (de quem eu peguei o título, que, para quem não sabe, Back to Black é o nome do álbum da, hm, dependente química mais fofa de todos os tempos), por ela não ter conseguido o visto para os Grammys. E agora, um minuto de festa porque ela ganhou 5 dos 6 a qual estava concorrendo:

Gravação do Ano, Canção do Ano, Artista Revelação, Melhor Álbum Pop e Melhor Interpretação Vocal Feminina Pop.

Viva a Amy!

quinta-feira, fevereiro 07, 2008

Resenha#1

Sem Reservas - No Reservations

Direção: Scott Hicks. Com Catherine Zeta-Jones (Chicago), Aaron Eckhart (Obrigado Por Fumar), Abigail Breslin (Pequena Miss Sunshine).

Uma refilmagem do alemão Simplesmente Martha, de 2001. Kate (Zeta-Jones) é uma chef profissionalíssima e certinha que comanda uma cozinha perfeita em um restaurante chique de Nova Iorque. Mas sua vida sofre uma reviravolta quando sua irmã sofre um acidente de carro, deixando a sobrinha, Zoe (Breslin), sob sua responsabilidade.
Em sua ausência de luto, algo muda na sua cozinha: Nick (Eckhart), um chefe extrovertido e inovador, é contratado para ajudá-la. Depois dos atritos e rivalidades iniciais, Kate descobre no novo colega um companheiro que a auxiliará não só com seus pratos sofisticados, mas também a cuidar da pequena Zoe.
Não vi o filme original - confesso que eu não sabia que se tratava de uma refilmagem -, mas tive uma boa impressão do filme. Representa bem a raça das comédias românticas, e pelo menos tem algo mais a se focalizar do que o próprio casal principal. O stress de uma profissional tão profissional que chega a tentar não demonstrar seus sentimentos no trabalho é retratado nos problemas de Kate - a morte da irmã, a responsabilidade para com a sobrinha e o medo de perder a liderança para um "sócio" recém-chegado.


Parceria típica - Eckhart e Zeta-Jones interpretam colegas de trabalho em Sem Reservas


*

Nota Extra

Só um papo entre irmãs, mas uma nota postável. Imaginem a seguinte manchete, e divirtam-se com a interpretação:

Rainha da Inglaterra nomeia o quase-dono-do-mundo: Sir Google

domingo, fevereiro 03, 2008

Como escrever um livro

Uma vez foi dito que, para um homem definitivamente viver sua vida, ele devia plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro. É uma idéia interessante, embora possa ser interpretada de diversas formas (que podem incluir mudas de maconha, um garanhão que muda de nome para fugir das antigas namoradas grávidas e um manual de Homens Mafiosos Enriquecem Mais Rápido).

Bom, como plantar uma árvore pode ser mais fácil do que você pensa se você tiver um pouquinho de empenho, e eu não posso ensiná-lo a fazer um filho - rerere tauvës ate posa (6) -, vou tentar ajudá-lo a escrever um livro.

Primeiramente, não, eu não sou uma profissional. Não sou formada em letras/jornalismo/publicaçãodelivrosamadores nem nada parecido, e meu livro nem mesmo está terminado ainda. Mas acho que, se eu tentar ajudar vocês, eu receberei alguma ajuda em troca (KARMA!1!!one). Aí vai:


1Isole-se do mundo. É, simples assim. Você pega seu bloquinho/laptop/pager/robô, se tranca em casa por muito tempo e começa a trabalhar. Não é brincadeira!!! Vá ao mercado, compre litros/quilos de café - ou chá, se você for do tipo escritor inglês - e biscoitos de polvilho (?), desligue seu telefone da tomada, quebre sua TV ao meio com um taco de baseball e deixe seu cachorro fazer pipi em cima do jornal que passa por baixo da porta do seu apartamento. ISOLE-SE! ISOLE-SE! AGORAAAA!

2Tenha uma idéia. Tipo, dã, óbvio. Mas você vai perceber, depois de alguns tufos de cabelo arrancados, que a sua maravilhosa idéia de um garoto órfão descobrir ser bruxo e estudar em uma misteriosa escola de magia já foi pensada dezoito anos atrás. E então, com uma frustração ainda maior, descobre que não consegue continuar a história da menina que descobriu que seus cookies de chocolate eram uma droga.

3Gaste pelo menos 50 lápis e faça seus dedos formarem calos de digitar. É regra! No mínimo 50 lápis (ou canetas, daquelas de tintas bastaaaante duradouras), e muitos cadernos, muitos mesmo. E, é claro, você terá de passar a história toda para o Bloco de Notas, o que quer dizer noites em claro copiando aqueles garranchos que são a sua caligrafia depois de meses vegetando em casa. Se a ponta dos seus dedos não ficar amortecida, o seu livro será um fiasco!! E se você não mandar isso para 25 blogs em dois minutos, a Samara vai aparecer pra você à meia-noite.

4Receba muitos "nãos". Todos os grandes escritores receberam recusas quando levaram seus rascunhos para editoras. É normal. E você - mesmo que tenha gastado um grande tempo da sua vida com o que pode ser um fracasso de prateleiras e acabar virando peso de papel - não vai ser diferente: afinal, várias coleções deram certo depois disso, não deram? Então, fique em frente ao espelho e crie uma expressão do tipo "tudo-bem-eu-entendo-mas-ainda-assim-estou-relutante-em-ir-embora-porque-vai-que-você-muda-de-idéia". Vai funcionar pelo menos pra despertar pena no cara, acredite; e um dia você encontra a editora certa.

5Procure um roteirista e um elenco para o filme. O quê? Muito precipitado, como assim? Meu querido, se você seguir minhas dicas, é mais do que evidente um sucesso blockbuster e um orçamento de US$200 milhões para uma série de dez filmes, pelo menos. Ah, quando for escrever a continuação, não deixe de dar uma passada no CC para relembrar como se faz. ;)


Ah. Não diga que não foi educativo.



Não esqueça de treinar sua assinatura. Autógrafos são TUDO! (Jo e Agatha: gênias)

sábado, fevereiro 02, 2008

Quem foi que teve a idéia...

Você nunca se perguntou de onde surgiram algumas das coisas mais casuais do mundo moderno (que, às vezes, nem é tão moderno assim)? Coisas como pular corda, molas ou cruzar as pernas, combinações estranhas que dão certo e nomes aleatórios que alguém criou para denominar tudo à sua volta.

Aqui uma pequena lista de perguntas intrigantes que eu nunca achei a resposta:

Quem foi que teve a idéia...

1) ... de que jogar vários objetos para o alto simultaneamente seria um ótimo entretenimento?

Quero dizer, imagine a cena: um egípcio (sim, porque a maioria das coisas do planeta foi inventada ou por egípcios ou por romanos; resolvi optar pelos caras das pirâmides) passeando sozinho às margens do Nilo, quando vê algumas pedrinhas jogadas no chão. Agora, a) Ele passa reto? b) Ele chuta as pedrinhas? Não, minha gente. Ele pega duas e começa a jogar para o alto, e depois três, e depois quatro ou cinco. Aí ele promove o seu insight e ninguém nunca ouve falar dele, apesar de que a sua idéia permanece por centenas e centenas de anos. Pode ter sido a triste história do primeiro malabarista.

2) ... de que milho verde combinava com praia?

Que camarão, peixe e outros frutos do mar combinam com uma bela paisagem praiana, isso todos entendem o porquê. Mas milho? Milhos nascem em plantações (aliás, tinha uma aqui do lado de casa... er, ignorem), e nem mesmo há milharais perto do litoral, há? O que me intriga é o fato de a mistura dar certo. Acho que a areia deixa o famoso cereal amarelo mais crocante e apetitoso e... Ui, chega, não quero imaginar o que há naquelas panelas de barraquinhas de milho verde.

3) ... de que balançar o corpo para lá e para cá era uma forma de lazer?

Quem nunca mexeu o esqueleto em uma festa, que atire a primeira pedra. Uma música certamente penetra nas nossas células cerebrais e manda estímulos para diferentes partes do nosso corpo, que podem formar movimentos variados, desde um aceno repetitivo de cabeça ao pezinho batendo ritmadamente. Mas eu imagino quem foi que descobriu que dançar - agitada ou calmamente, sozinho, a dois ou em uma rodinha de amigos, jogando os braços para cima ou rodopiando - era divertido. Alguém deve ter tido a cara-de-pau de começar, nem que tenha sido um homem-de-neandertal entediado.

4) ... de que "cadeira" seria um bom nome para uma superfície na qual você senta?

Explique-me: o que tem a palavra "cadeira" a ver com "sentar"? Por que não "sentador", ou "suporte de bundas", ou qualquer coisa do gênero? É uma coisa que sempre me perguntei... talvez em outra língua, faça sentido, mas quem foi o cabeçudo que inventou essa tradução esdrúxula para um objeto tão comum? Se eu fosse fazer o raciocínio lógico, seria mais ou menos assim: Cadeira, caideira, cair, cair sobre o traseiro, sentar. Ou alguma coisa parecida. Ah, quem se importa?

5) ... de colocar bichinhos na ponta das canetas?

Ok, pode ser uma pergunta meio besta. Mas eu estava procurando o que falar, e, sobre a minha escrivaninha, havia uma caneta com uma cabeça de boneca - juro, com um cabelo de Barbie e olhos desenhados - na parte de trás. No entanto, não é a primeira tentativa de enfeite que eu vejo: há plumas coloridas que se desprendem do seu amontoado no meio da aula e ficam flutuando por entre os alunos sedentos de distração; animaizinhos de acrílico que acendem quando se escreve (e falham depois que o ser humano fica apertando a ponta da caneta contra o papel insistentemente); e até mesmo caveirinhas com alavancas que impulsionam seus bracinhos para frente, como se lutassem boxe. Esta última é uma grande diversão para tardes entediadas quando se tem duas delas: você realmente entra na luta e sente a emoção de socar uma caneta.

O que eu quero dizer com tudo isso é: existiram muitos gênios anônimos antes de Albert Einstein e Tim Burton. E sim, até o cara que colocou duas tiras em um pedaço de tábua para formar um chinelo é considerado um gênio; afinal, você usa as suas Havaianas direto.

sexta-feira, fevereiro 01, 2008

Ô, abre alas, que eu quero sentar e ver TV

Digam o que quiserem, mas o Carnaval não é totalmente como já foi um dia. Assim, se você parar pra imaginar que, não muitas gerações atrás, as pessoas jogavam lança-perfume no ar para animar as festas, você entende o que eu quero dizer.

Não que a empolgação tenha ido embora - muito, muito pelo contrário -, apenas o conceito de "Carnaval" mudou de um jeito trágico. Antigamente, pessoas de todas as idades vestiam suas fantasias e máscaras e saíam cantando marchinhas como a famosa Abre Alas, de Chiquinha Gonzaga, ou A Jardineira, de Benedito Lacerda e Humberto Porto. Agora? Bem, vejam por vocês mesmos:


Trio elétrico do Netinho

É uma mistura grande, se querem saber. O Brasil sempre foi um país diversificado, seja em paisagens, sotaques, gastronomia, estilos musicais ou qualquer outra coisa; hoje em dia, as festas de Carnaval variam de trios elétricos de Axé a superfestas de música Eletrônica com DJs internacionais.

Não que eu esteja reclamando, longe de mim. Eu realmente acho algo bom, porque eu, particularmente, não teria todo o empenho de ficar atrás de um caminhão pulando e cantando Axé. Mas acho que, como vários outros feriados do mundo todo, a essência original do Carnaval se perdeu. Quer dizer, minha mãe passa os dias do feriado vendo os desfiles das escolas de samba do Rio, Salvador e São Paulo. Pela TV. E nem mesmo torce pra nenhuma delas.

O que eu quero dizer é que: vou passar o Carnaval na minha cidade - que não é litoral -, sozinha, com esse clima louco que varia do FC (Frio de Casacão) ao CR (Calor de Regata), onde os bares estão quase vazios porque todos estão na praia. Acho que é só dor de cotovelo.