quinta-feira, julho 24, 2008

Urbana

A paisagem urbana é uma coisa. Da janela de um táxi, passando pelo centro movimentado de uma cidade movimentada, você consegue viajar na história de cada pessoa e construção ao longo dos quarteirões.


Um jardineiro trabalhando nas flores da entrada de um prédio de luxo. Ele deve ter uma mulher, filhos, quem sabe? Será que a esposa tem um emprego? Talvez o trabalho dele não seja suficiente para sustentar a casa. Há quanto tempo ele trabalha? A julgar pelos traços do seu rosto ligeiramente marcado pelo tempo, deve ter pelas últimas casas dos 50 - pode ter começado cedo, com quase 20. Seriam 30 e poucos anos para fazer clientes, conquistá-los. Um indica ao outro, e ele pode ter trabalhado nas casas de todo um círculo de amigos, graças ao velho de-boca-em-boca! E agora planta tulipas alinhadinhas à grade alta do portào de um edifício suntuoso.


Uma oficina mecânica, pequena, no meio de uma quadra. Dois homem conversam em frente, onde um carro não dos mais novos está estacionado na entrada. O nome da oficina é um sobrenome: sria um daqueles sujeitos o próprio? Um é bem mais velho do que o outro, poderiam ser pai-e-filho-sócios. Poderiam ser também sogro-e-genro-sócios. Mas é possível que fosse um cliente e um mecânico, amigos, quem sabe. O carro ali pertence a algum cliente ou é do dono, mesmo? Ele precisa de uma lavagem e uma retocada na pintura. O automóvel, não o dono.


No momento, é impossível continuar. O taxista - que parece muito um daqueles boêmios americanos negros gorduchos, tocando jazz no saxofone em um bar, com seus cabelos brancos e crespos por baixo de uma boina verde, apesar do pagode no rádio do táxi - faz curvas loucas pela Avenida.